Chamada de “mal silencioso”, a pressão alta – antes exclusividade entre adultos – pode fazer parte da rotina das crianças. Observada cada vez mais precocemente, sua incidência varia de 2% a 13% entre crianças e adolescentes. A explicação, na maior parte das vezes, está no estilo de vida contemporâneo que reúne maus hábitos alimentares e sedentarismo. Isso acaba resultando em obesidade e problemas associados, entre eles, a hipertensão arterial.
A cardiologista infantil, Tatiana Jardim, explica que “nos últimos anos, a pressão alta chama a atenção entre as crianças, principalmente em idade escolar. Isso se deve por conta do estilo de vida inadequado, com muita gordura e sal na alimentação e pouca ou nenhuma atividade física”. O monitoramento da pressão arterial colabora para a detecção precoce de doenças relacionadas à hipertensão.
A agenda atribulada também é apontada pelos especialistas como um dos motivos do aumento do distúrbio. “Já percebemos casos de pressão alta por fatores psicológicos como ansiedade e estresse. Algo bastante comum entre crianças com atividades extracurriculares em demasia e jovens que vão prestar vestibular”, avalia a cardiologista.
A medida correta
De acordo com Tatiana, o ideal é que o pediatra comece a medir a pressão arterial nas consultas de rotina, a partir dos 3 anos de idade. Mas o diagnóstico requer cautela. Assim como os adultos, as crianças podem apresentar casos de pressão alta transitória. Por isso, é recomendado comparar duas ou três medições em situações e horários diferentes.
Outro especialista, Gustavo Foronda, faz um alerta: “se a mãe percebe que esse cuidado não faz parte da rotina do pediatra, tem de lhe pedir que faça a medição. Além de monitorar a pressão arterial do pequeno, o exame colabora para a detecção de doenças relacionadas à hipertensão”, ressalta.
Um detalhe importante é o aparelho de medição: um modelo especial, diferente do utilizado nos adultos. O equipamento precisa ter ajustes adequados para os braços e o melhor é aquele que faz as medições automaticamente. “A pressão arterial nas crianças é diferente de acordo com a idade, o peso e a altura. Existem tabelas que definem se o valor medido está dentro do padrão da normalidade”, explica o médico.
Genética e estilo de vida
Entre filhos de pais com pressão alta é maior a probabilidade de desenvolver o problema no futuro. Nessas famílias, o acompanhamento dos níveis de pressão arterial da criança deve começar logo cedo. A especialista alerta: todos têm de adotar um novo estilo de vida que reúna alimentação saudável e atividade física. “Essa é a forma de garantir mais adesão das crianças e adolescentes”, explica Tatiana.
Nas crianças, os principais fatores de risco para elevar a pressão – além do histórico familiar – são o sedentarismo, a obesidade e a alimentação inadequada. Já entre os adolescentes, também contribuem hábitos como o tabagismo, a ingestão de álcool e de drogas, o uso de anticoncepcionais orais e de anabolizantes.
Mudança de hábitos: primeira fase do tratamento
Só a mudança no estilo de vida resolve 95% dos casos de pressão alta infantil. Incluir atividade física no dia a dia e alimentos saudáveis, além de retirar o excesso de sal nas refeições, é o primeiro passo para manter a pressão arterial no nível adequado.
Foronda aconselha a substituição do videogame por outras atividades. “Os jogos promovem uma neuroestimulação que pode aumentar a carga de estresse e ainda colaboram para que crianças e adolescentes fiquem cada vez mais sedentários”, explica. Os melhores exercícios para essa fase, segundo o especialista, são a caminhada, o ciclismo e a natação.
Segundo o especialista, os outros 5% dos casos estão relacionados às causas secundárias, que precisam de tratamentos mais específicos. Quanto mais jovem o paciente, maior a probabilidade de a pressão alta ser consequência de outros males. Quando a mudança de hábito não resolve, é preciso partir para a medicação. Mas isso apenas nos casos de hipertensão genética e com variações de moderada a importante.
No caso de pressão alta infantil, lembre-se sempre da velha e boa recomendação: prevenir é melhor do que remediar e boa alimentação começa no berço.